Dia do gráfico: nada substitui a luta por direitos, seja em 1923 ou hoje.

Os gráficos podem verificar a questão na própria experiência da categoria em busca de saídas para difícil conjuntura sobre os direitos e o sindicato.

Diante da conjuntura de retrocesso no Brasil onde o governo federal quer menos direitos trabalhistas e previdenciário e a destruição dos sindicatos, onde grande parte da classe política eleita apoia tudo isso, a única saída para os trabalhadores é a unidade em torno de sua entidade sindical para resistirem a fim de buscarem manter seus direitos conquistados com luta. Aos sindicatos, por sua vez, precisam assimilar às radicais mudanças e atualizarem a forma de ação para manterem a organização da categoria. A Confederação Nacional dos Gráficos (CONATIG) avalia que a existência do movimento sindical e dos direitos trabalhistas, que são os dois maiores legados do gráfico oriundos do 7 de fevereiro de 1923, dependem disso.

Nesta sexta-feira completa 97 anos do movimento grevista da categoria, que, mesmo diante da opressão dos políticos e patronais, pior do que é hoje, instituiu um marco no Brasil para a defesa dos direitos trabalhistas. “A resistência e a compreensão do mundo em que viviam foi o diferencial. Tinham consciência das injustiças (emprego sem direitos) e perspectivas de futuro a partir da unidade e organização do próprio trabalhador junto ao seu sindicato (UTG)”, conta Leonardo Del Roy, presidente da CONATIG.

Não foi só uma greve, mas a greve de 42 dias. E ela só terminou em 7 de fevereiro após o governo e empresas reconhecerem o direito de o gráfico ter um sindicato como seu representante, bem como o conjunto de direitos superiores ao da época e iguais nas empresas – conquistas que seguem até hoje, mas ameaçadas por novas leis de políticos e patrões de agora. “É por isso que o 7 de fevereiro é tão importante para os tempos atuais. Tem total sintonia com o cenário político de hoje. Tentam tirar o que temos e só o conjunto de gráficos irmanados de novo com seu sindicato, filiando-se, pode fortalecer a categoria para enfrentar o governo e os patrões”, diz Walter Aranha, presidente do Sindicato dos Gráficos do RJ (STIGMRJ).

A CONATIG garante que a única saída está no próprio trabalhador, da base à direção sindical, esta que deve se reinventar e resgatar a credibilidade diante da classe, mesmo diante dos efeitos negativos das novas leis sobre as estruturas do sindicato. “A única solução está na aproximação da base. O trabalhador é o único que pode salvar o sindicato e juntos, por sua vez, evitarem a consolidação do projeto político-empresarial de destruição dos direitos trabalhistas e sindicais”, diz José Aparecido, diretor do STIG de Minas Gerais.

A tarefa não é fácil. Ainda mais frente à crise econômica e falta de politica na área, elevando a desindustrialização e ampliando o desemprego, além da crise estrutural do setor gráfico diante das radicais e velozes mudanças tecnológicas. “O desafio é grande. Mas não terá mudança se ficar parado.  E a história de luta do gráfico aponta a unidade da categoria junto ao seu sindicato como a única condição para mudar uma realidade cruel”, realça Leandro Rodrigues, presidente do STIG Jundiaí-SP e diretor da CONATIG.

Neste sentido, na capital do Brasil, o STIG aproveitará esta semana do 7 de fevereiro, que é feriado para o gráfico do local, para visita-los. “Vamos conversar com eles sobre a relevância desta data de luta da classe e da necessidade de estarmos juntos”, conta Elson Solsa, diretor do STIG-DF. A data tem tanta força que é considerada o Dia dos Gráficos brasileiros. É feriado para classe em vários estados, a exemplo do DF, RJ, PA, PE, MG e etc.. Tem até festa promovida pelos STIGs. Porém, desde 2018, com a nova CLT que tirou a receita dos sindicatos no Brasil, o STIG DF e outros não conseguem mais fazer. No entanto, em alguns estados, como no PA, PE e na cidade de Feira de Santana/BA, ainda continua ocorrendo.

Com as novas leis, de 2017 para cá, o arbítrio cresce pelo Brasil. “Já tem gráficas que tentam atropelar até o feriado do Dia do Gráfico no Pará”, diz Martinho Sousa, diretor do STIG-PA, no Norte do país. Se nada for feito, a coisa piorará. O sindicato aproveitará a festa da classe para lançar seu manifesto: “Construir a unidade de classe para combater o retrocesso”. E essa união, segundo destaca Susana Arrua, presidente do STIG Paraná, no Sul do Brasil, é o único instrumento dos trabalhadores com capacidade de proteger os direitos diante dos ataques vorazes do governo e patrões. No Paraná, por exemplo, a campanha salarial está travada porque o setor empresarial se nega a aumentar apenas R$ 1 do vale-refeição do gráfico. Apesar disso, ela aproveita para parabenizar a classe pelo 7 de fevereiro, assim como fazem os STIGs brasileiros, a exemplo do de Blumenau/SC.

Em Pernambuco, no Nordeste brasileiro, o STIG local também aproveitará para lançar na festividade do Dia do Gráfico a campanha “Não deixe essa chama apagar”. A chama é a unidade dos trabalhadores em torno do seu sindicato – um legado do 7 de fevereiro. “Muitos gráficos pernambucanos e no Brasil não sabem da origem desta data e seus efeitos positivos sobre suas vidas. Também não sabem que tais conquistas correm risco diante das leis atuais. Nem de que há uma forma de evitar os prejuízos através da sindicalização”, constata Iraquitan da Silva, presidente do STIG-PE.

No estado do Rio Grande do Sul, vários STIGs gaúchos liderados pela Federação dos Gráficos (FETIGERS), presidida por Lauro Rosa, constatam também as maiores dificuldades na defesa do legado do 7 de fevereiro. No entanto, garantem que a luta vai continuar em defesa desse legado, mas, para isso, depender da unidade e participação dos trabalhadores. “Este é nosso compromisso e de nossos STIGs filiados. Continuaremos na defesa dos direitos da Convenção Coletiva de trabalho”, realça Rosa.

Apesar dos desafios complexos enfrentados, os gráficos já enfrentarem no passado dificuldades bem maiores que a atual. E nada impediu que as lideranças da classe em 1923, fortalecidos pelos próprios trabalhadores organizados e unificados junto aos seus representares, mudassem a situação vivida com efeitos positivos até hoje. Portanto, a CONATIG lembra aos STIGs do Brasil e aos trabalhadores que nada substituirá a luta, seja em 1923, ou agora.

SALVE O 7 DE FEVEREIRO!